PRODUÇÃO DE METANO RUMINAL POR BOVINOS E AÇÕES MITIGADORAS
A VARIAÇÃO
DA PRODUÇÃO DE METANO NO RÚMEN
CONSIDERAÇÕES SOBRE O USO DE FORRAGEIRAS DE QUALIDADE, MELHORAMENTO GENÉTICO E
BEM ESTAR ANIMAL.
A
emissão de CH4 proveniente da fermentação ruminal depende
principalmente do tipo de animal, nível de consumo de alimentos, tipo de
carboidratos presentes na dieta, processamento da forragem, adição de lipídeos
no rúmen, suprimento de minerais, manipulação da microflora ruminal e da digestibilidade
dos alimentos. Por essas razões, as indicações para a redução das emissões de
CH4 pela pecuária estão ligadas a medidas que refletem na melhor
eficiência produtiva.
O incremento na
utilização de energia digestível na dieta é citado na literatura como a estratégia
mais eficaz na redução da emissão de CH4 por unidade de produto
(carne ou leite) pelos ruminantes.
O fornecimento de dietas que possuam, em maior
quantidade, carboidratos rapidamente digestíveis, a manutenção de altos níveis
de ingestão, a utilização de forragens de melhor qualidade e o melhoramento genético
dos animais, priorizando maior desempenho produtivo, constituem os principais
recursos conhecidos e disponíveis para a diminuição da produção do metano
ruminal.
Moss e Givens (2002)
citam que o desempenho produtivo mais elevado dos animais pode reduzir a
emissão de CH4 em função da redução no número de animais no sistema
de produção, considerando ainda que, em criações que visam produção de carne, o
acréscimo no desempenho dos animais resulta em menor permanência do animal no sistema,
reduzindo a produção do gás durante o ciclo de vida.
Bem como, pode haver
grande geração de óxido nitroso (gás de efeito estufa 250 vezes mais potente em
reter calor que o CH4), oriundo do nitrato gerado pelos
fertilizantes nitrogenados aplicados nas lavouras de grãos e pastagens, quando
submetidos à condições anaeróbicas, durante períodos de chuvas ou de irrigação.
Dietas que
proporcionam alta taxa de digestão reduzem a emissão de CH4, já que
o alimento não permanece por tempo prolongado no rúmen AAFC, (2003).
Primavesi
2004, verificou que: embora não significativa, há tendência de maiores taxas de
emissão de metano (g/kg de MS ingerida), aproximadamente 5%, por animais mestiços,
em especial quando a ingestão de MS foi estimulada pela substituição com
concentrado (aumentando a emissão de metano para aproximadamente 15%).
OBJETO
GERENCIAMENTO DE PROPRIEDADES LEITEIRAS UM CASO DE SUCESSO NA PECUÁRIA LEITEIRA
FLUMINENSE E PARA O MEIO AMBIENTE.
REALIDADE
ATUAL
Segundo o IBGE,
no Censo Agropecuário de 1995-1996, o rebanho bovino brasileiro foi
o maior rebanho comercial do mundo. São cerca de 170.000.000 cabeças que produzem
50 kg
metano/ cab /ano num total de 8.500.000.000 kg de metano entérico.
22.000.000
cabeças de vacas leiteiras X 50
kg metano/ vaca/ano = 1.100.000.000 kg
de metano entérico produzidos pelas vacas leiteiras
Produção
Brasileira de Leite = 27.000.000.000 /L /Ano
Média Produção
Brasileira = 3,36 L
/Vaca /dia.
Sendo que
a produção de metano por litro de leite é de 0,04kg /litro de leite
PASTAGENS
DEGRADADAS
Segundo Ana Maria
Primavesi (1982), a pecuária convencional e extensiva, baseada no pastejo contínuo
e geralmente com lotação acima da capacidade de suporte, fator que mais
contribui para a degradação das pastagens e a pecuária super-intensiva, baseada
em confinamentos dependentes de grãos que são mal convertidos por ruminantes,
não são sustentáveis. Para alcançar a sustentabilidade, a pecuária precisa ter
no seu alicerce o Manejo Sustentável das Pastagens, de forma a garantir de maneira
sustentável, a qualidade e a quantidade de alimentação dos animais, que está na
base da pirâmide da produção pecuária.
Estima-se que de aproximadamente 100 milhões de hectares
de pastagens cultivadas do país, cerca da metade ou 50 milhões de hectares, já
estejam seriamente afetadas pela degradação, (IBGE,1997). Devido a grande área
de pastagens degradadas a taxa de lotação dos pastos brasileiros é muito baixa (0,8
UA /ha), utilizando forrageiras de baixo
teor nutritivo, baixa capacidade de lotação e pastejo contínuo, (Gomes et al
2003).
ANIMAIS
DE BAIXO VALOR GENÉTICO
O
rebanho brasileiro é constituído de 87% de animais de origem zebuína, com alta
resistência ao meio e baixa produtividade leiteira, baixa persistência, baixa
prolificidade. .
O
rebanho zebuíno se adapta a condições de baixa qualidade alimentar e de
conforto, porém, sua produtividade é baixa.
O
rebanho Taurino responde a boa alimentação e conforto com alta produtividade. Com
a implantação do Projeto de Gerenciamento Propriedades Leiteiras podemos
substituir uma espécie pela outra, sem a elevação de custos Faria, (2007).
A MUDANÇA
Produtividade,
esta é a palavra chave para sobrevivência do produtor e do meio ambiente, produzir
leite a baixo custo com qualidade e ambientalmente correto. O caminho até a alta produtividade
se inicia com planejamento onde, se tem uma visão global do empreendimento,
Transformar
a produção de leite de meio de vida, (Custo
operacional baixo; mão de obra familiar, margem bruta pequena, usada
sobrevivência), em negócio, (Pode
crescer remunera o trabalho do empresário, paga depreciação de bens, remunera o
capital empatado e possibilita lucro), é o principal objetivo do serviço
de extensão rural.
O
primeiro passo é reformular o sistema de pastagem, visando a sustentabilidade
da atividade por muitos anos. Junto com a melhoria da comida devem-se planejar
áreas de descanso, água fresca limpa a disposição, manejo correto e sem
estresse, boa sanidade, boa estrutura de rebanho, e por fim, boa genética para
aproveitar todos estes benefícios e transformá-los em produção, produtividade e
lucro financeiro para o produtor e para o meio ambiente mantendo o homem e sua
família no meio rural sem agredir o meio ambiente evitando assim, mais seres
humanos sendo deslocados para as periferias das grandes cidades, vivendo em
condições sub-humanas agravando os problemas sociais e aumentando a poluição.
GEORREFERENCIAMENTO.
O
primeiro passo para o planejamento será demarcar e mensurar a área. Isto é
necessário para que se possa calcular a quantidade de adubo a ser aplicado, o
número de piquetes a serem implantados, o número de animais a utilizar a área,
a localização das sombras e “aguadas” (pontos de fornecimento de água) e
avaliar se os resultados obtidos estão compatíveis com o esperado.
ANÁLISE
DE SOLO.
O
conhecimento do tamanho da área e da análise de solo determina-se: a
deficiência mineral existente no terreno e é possível recomendar a quantidade
de calcário e adubo para produzir grande quantidade de forrageira de alta
qualidade por unidade de área, visando alcançar uma alta lotação animal por hectare,
passando de 0,5 cabeças ha para alcançar entre dez e cabeças quatorze cabeças ha.
“O
pecuarista tem que ser um excelente agricultor para colher em seu plantio de
forrageiras muita carne e muito leite” (Camargo et al, 2007).
PASTEJO
ROTACIONADO
O
pastejo rotacionado foi desenvolvido por André Voisin na década de 1950. Esse
tipo de pastejo foi desenvolvido para maximizar a produtividade por área Faria,
(2007).
No
método de pastejo rotacionado, a fisiologia da planta é respeitada e a gramínea
só é colhida quando esta no ponto de maior concentração de proteína e energia.
A pastagem é subdividida em piquetes, para não rebaixar excessivamente as
forrageiras, os animais se alimentam por um dia em cada piquete, a seguir a
área permanece por um certo tempo em descanso.
CONTROLE ZOOTECNICO E FINANCEIRO.
Com
a instalação do projeto, é necessário, o controle de produção para se avaliar o
funcionamento do sistema e se possa fazer os ajustes necessários.
Principais controles registrados: controle leiteiro
individual mensal, controle leiteiro geral diário, controle de cio e
coberturas, controle de parições, controle de receitas e despesas, (Guia
Prático da Produção Intensiva de Leite/ Gestão da Qualidade 2007).
A Análise de produção e de custos é muito importante para se verificar
como e se os recursos empregados estão sendo remunerados, Faria, (2007).
RELATO DE CASOS.
Faz. Liberdade
Valença – RJ
4° distrito (
Pentagna )
Proprietário:
Marco Antonio Fialho Duboc
Técnico
: Marcelo Afonso da Graça Cândido
Período:
julho 2007/junho2008
No ano
de 2007, o período de seca na região do Médio Paraíba RJ, Valença, iniciou no
mês de fevereiro e as precipitações só voltaram a ocorrer em novembro do mesmo
ano.
Devido
a débitos acumulados com ração e insumos durante quatro meses do ano de 2007, o
pagamento ao produtor, feito pelo laticínio, foi de R$ 0,00 e a dívida
aumentava em
aproximadamente R $ 300,00 ao mês. Somado a este débito com o
laticínio, o produtor tinha outro débito com o sistema financeiro de R$ 18.000,00,
que havia sido adquirido para compra de vacas visando aumentar a produção,
porém, sem planejamento e sem possuir alimentos de baixo custo financeiro, para
ofertar aos animais, suas dívidas só aumentaram e seu empreendimento tendia ao
fracasso
O
produtor trabalhava como motorista para prefeitura de Valença e o seu salário,
R$ 1.000,00 era utilizado para diminuir os débitos da produção leiteira, (dívidas
com ração, mão de obra) e na sobrevivência da família.
O
próximo passo do produtor seria vender parte da propriedade para a Prefeitura
de Valença. O local seria destinado à implantação de um “Lixão” . O proprietário
desejava adquirir com o dinheiro da
venda mais um lote de vacas, que sem planejamento teriam o mesmo destino das
vacas anteriores: o açougue. Ao ser apresentado ao Projeto e ao técnico do
SENAR, Marcelo Afonso Graça Cândido, o produtor enxergou que não conseguiria
sobreviver com o modelo por ele empregado. Decidiu entrar para o Projeto e se
dedicar de, inteiramente, para que tudo desse certo, (Depoimento do produtor Marco
A. F. Duboc, 2008).
Foi
feita análise de solo, medida a área, início do controle zootécnico e Com a
avaliação do rebanho, os animais que não se enquadraram nos parâmetros
zootécnicos foram vendidos.
Com a venda dos animais, comprou-se adubo,
arame para montar o sistema de piquetes para cinco vacas que estavam com a
melhor produção.
Em
dezembro, época de pagar o décimo terceiro do funcionário, contabilizou-se e
observou-se que o funcionário ganhava mais que o patrão.
Foram vendidos dois animais para indenização
do funcionário. Para sua substituição, foi comprada uma ordenhadeira mecânica
em trinta prestações de R$ 200,00.
Com
o auxílio do técnico, acordos financeiros foram feitos com o laticínio e o
banco, equilibrando suas dívidas. Atualmente, sua dívidas não estão pagas,
porém, estão equacionadas e com prazo para terminar .
Com
a sistematização da área em piquetes e a racionalização do espaço, a área
utilizada anteriormente, passou de 70 ha para 10 ha . A área disponibilizada
pelo Projeto foi alugada por R$ 700,00.
O resultado deste trabalho é a diminuição da
emissão de CH4, pois, com um terço de animais se dobrou a produção
de leite, e com o sucesso financeiro do empreendimento foi evitado que uma área
produtiva se transformasse em um “lixão”.
A
parte social foi contemplada, pois, o destino deste produtor seria perder toda
sua área produtiva, sua identidade social, se transferir para o meio urbano e
viver na periferia com sua família, (Cândido M. A. G. depoimento do técnico
2008).
Sítio Sto. Antônio,
Vassouras – RJ
distrito de
Pirauí
Proprietário:
Jorge Gonçalves Medeiros Filho
Técnico : Carlos
Otávio J. M. da Rocha
Período:
maio2007/janeiro2009.
Como
no primeiro relato, a época seca do ano de 2007, foi muito intensa. O produtor
Jorge Gonçalves Filho, sua família e seu rebanho estavam sofrendo as
conseqüências de uma seca prolongada que se instalou na região sul e centro sul
fluminense.
A
situação do empreendimento no início do trabalho era de total desânimo, pois,
as dívidas se acumularam o rebanho estava muito magro, o produtor não tinha
mais crédito e a perspectiva, para custear a sobrevivência da família e da
propriedade. O produtor trabalhava de ajudante de pedreiro.
O
produtor foi a uma palestra motivacional do Projeto Gerenciamento de
Propriedades Leiteiras do SENAR/RJ onde tomou conhecimento das técnicas
utilizadas para desenvolvimento de propriedades leiteiras. Foi apresentado ao
Médico Veterinário Carlos Otávio J. M. da Rocha técnico do projeto.
Foi
iniciado o trabalho no início da seca de 2007, quase não havia cana para
alimentar então o primeiro passo foi salvar o rebanho da morte por fome.
Foi
feita seleção dos animais que poderiam permanecer no rebanho, o excedente foi
vendido para produzir recursos financeiros e diminuir o rebanho para passar o
período seco.
O
segundo passo, foi fazer a medição da área a ser utilizada no projeto, analise
do solo e planejamento para o futuro do empreendimento.
Com
o dinheiro da venda dos animais foi comprado adubo, e arame liso, o aparelho de
emissor de choque.
Como
o capital arrecadado foi pouco para as despesas planejadas o mourões foram feitos
de bambu gigante e os isoladores utilizados foram feitos de gargalos de
garrafas PET.
Como
no relato anterior, esta propriedade é mais um exemplo de como diminuir o
impacto da atividade leiteira no meio ambiente.
Houve
diminuição de emissão de CH4, pois, o rebanho foi diminuído pela
metade e a produção de leite foi multiplicada por seis,
Além
disto, houve a utilização de insumos alternativos retirando resíduos dos seres
humanos da natureza, (gargalos de garrafas PET).
No
campo social, também ocorreram avanços pois o produtor já pensava em largar o
campo e se dirigir para o meio urbano por falta de perspectiva na produção
leiteira, após a entrada no programa, suas perspectiva mudou.
8. - CONSIDERAÇÕES
FINAIS
Uma vez que a produção de CH4
varia de acordo com a quantidade e qualidade do alimento ingerido, as várias
modalidades e condições de sistemas de criação dos ruminantes implicam em
fatores diferentes de emissão de CH4.
O fornecimento de alimentos de
melhor qualidade é considerada uma das principais indicações para a redução da
emissão de CH4 por bovinos. A possibilidade de maximizar a
utilização de energia dos alimentos e o consequente aumento da produtividade animal,
possibilita a redução na produção do gás por unidade de produto gerado. Além
disto, é possível reduzir o tempo necessário para que o animal finalize seu
ciclo produtivo, no caso do gado de corte. Entretanto, os vários aspectos envolvidos
na cadeia de produção animal, no que se refere desde a produção de alimentos
até a obtenção do produto final, devem ser considerados, elegendo sistemas que
possibilitem a redução da emissão de gases poluidores para a atmosfera.
Programas como este do SENAR/RJ,
devem ser estimulados, pois, com planejamento e algumas mudanças no dia-a-dia
do produtor conseguem-se grandes avanços sociais, econômicos e financeiros,
transformando situações adversas em sucesso.
Nenhum comentário:
Postar um comentário