terça-feira, 10 de maio de 2016

MANEJO ALIMENTAR E DE PASTAGENS NA ÉPOCA DE TRANSIÇÃO 2






O consumo de pastagem sofre interferência direta da quantidade fornecida de suplemento (independentemente do tipo de suplementação, se apenas concentrado ou concentrado e volumoso). Quanto maior for a quantidade fornecida de suplementos no cocho, menor tende a ser o consumo de pasto. Quem maneja pastagens, no verão, enfrenta um grande desafio: o estresse térmico. Mesmo trabalhando com animais cruzados com sangue zebu, como vacas girolando, tradicionalmente reconhecidas como animais mais resistentes e adaptados as condições tropicais do nosso país, não podemos negar o impacto negativo em termos produtivos, causado pelo calor.
É neste período que nos deparamos com os maiores erros de manejo. Em função do estresse térmico, muitos produtores acabam fornecendo quantidades maiores de suplemento no cocho, sob a prerrogativa de que “com o calor, as vacas ficam deitadas debaixo da árvore e consomem pouca forragem, e que é melhor ‘garantir’ a produção no cocho”. Essa atitude pode agravar ainda mais o consumo de pastagem via efeito substitutivo.
De fato, em qualquer sistema de produção, e pela natureza do comportamento animal de ruminantes (atavismo), temos uma tendência de queda no consumo de MS entre 10:00 e 16:00 horas, diariamente. Em condições de estresse térmico e muito calor, esse efeito comportamental é ainda mais pronunciado. É comum, em fazendas, não encontrarmos atividade de pastejo nesse intervalo, em dias de verão e calor intenso. 

Em termos práticos, a realidade que encontramos são fazendas com animais ordenhados logo cedo. Saem da ordenha e são suplementados. Por efeito substitutivo e calor atenuante, tendem a se deitar entre às 9:00 e 10:00 horas, após o consumo de suplemento, permanecendo em baixa atividade até o meio da tarde.

Muitas ordenhas acontecem a partir das 15:00 horas, ou seja, no momento em que poderíamos começar a ter uma melhoria na atividade de pastejo. No entanto, em muitos sistemas, a partir desse horário os animais são conduzidos, novamente, para a ordenha. Após a ordenha, recebem nova dose de suplementação. Nestes casos, temos um efeito substitutivo que pode inibir atividade de pastejo. Notadamente, esse efeito é menor no período da tarde. Logo, é importante que o pecuarista esteja atento às possibilidades de mudanças em seu manejo para ter melhor rendimento. Se durante o período da manhã os animais costumam comer bem a suplementação e depois descansar, uma estratégia pode ser oferecer uma maior quantidade de suplemento neste período. Com o pôr do sol e chegada da noite, e consequente redução na temperatura, o que notamos é uma melhor atividade de pastejo e consumo.
Logo, uma estratégia interessante de manejo no período da tarde é o fornecimento de uma “alimentação rápida”, para “convidarmos” as vacas para um pastejo mais eficiente no período noturno. Dessa forma, o produtor que trabalha com pasto e suplementação deve estar atento às mudanças que acontecem ao longo do ano e às possibilidades de mudança em seu manejo de acordo com cada cenário e desafio prático a ser enfrentado. O primeiro cuidado é com a quantidade de concentrado fornecida, e teores desse concentrado quando este é o único suplemento. O uso de rações comerciais compradas, com formulações “travadas”, nem sempre é a melhor opção ou opção adequada para uma dada qualidade de pastagem. O pecuarista deve estar atento sempre ao teor de energia e proteína, em média, que seu pasto produz numa situação de verão. Ao mesmo tempo, precisa ter consciência que a demanda de alimento varia de acordo com a produção de leite e estágio de lactação.



demandas sazonais

A qualidade do concentrado para animais mantidos a pasto no inverno, mesmo que com menor lotação, deve ser bem diferente do concentrado usado no verão. Concentrados para animais a pasto, no verão, precisam ser mais energéticos que protéicos. Muitos vendedores que comercializam rações e suplementos costumam fazer da “concentração protéica” (teor de proteína bruta) a “moeda de valor” ao abordarem produtores. No verão, com pastagens bem manejadas e adubadas, a preocupação com o teor de proteína da ração ou concentrado fornecido não é tão importante quanto o de energia. O contrário ocorre no inverno, ocasião em que o teor de proteína das pastagens cai abruptamente e, para animais mantidos em pastejo nessa época (menor lotação), devemos fazer uso de rações e concentrados ricos em proteína. Animais no terço médio e final de lactação tendem a consumir mais alimento com menor demanda por nutrientes (menos energia e proteína), ou seja, dietas menos densas. O contrário acontece com vacas em início de produção. Logo, por mais interessante que seja fazer uso de apenas um concentrado misturado na fazenda ou ração comprada, o produtor deve checar se não vale a pena segregar seus animais, qualificando melhor seu manejo. Um “concentrado padronizado” em determinadas
condições de manejo pode ser muito pouco eficiente. Para propriedades menores, com menos animais em produção, a subdivisão em vários lotes pode ser uma medida pouco prática. Todavia, para maiores quantidades de vacas em produção, essa subdivisão é mais do que necessária, e conseguimos facilmente justificar manejos mais elaborados com uso de produtos direcionados. Em sistemas de produção que trabalham com suplementação de volumoso é necessário cuidado ainda maior, pois o efeito
substitutivo pode ser maior. Procura orientar seus  clientes sempre a otimizar as vantagens comparativas de cada estação no decorrer do ano. Durante o verão, recomendamos a máxima exploração da pastagem, sem uso de suplementação com volumosos, se possível, visando a redução de despesas. A média individual pode ser menor nesse período, mas nossos esforços são direcionados visando a maior taxa de lotação possível e produção por área. No inverno, se necessário, optamos até pelo confinamento total de determinados lotes, e nosso objetivo se volta para a suplementação no cocho que promova a melhor média de produção. Esse raciocínio se aplica para as áreas do Brasil de maior latitude e maior estacionalidade de produção.

estação de “transição”
Na presente época do ano, que classificamos como período “de transição” entre estação chuvosa e seca, os cuidados devem ser redobrados. Apesar de ainda haver disponibilidade de forragem, de abril em diante a qualidade dos pastos tende a diminuir substancialmente, traduzida na queda do teor de proteína (%PB) e com aumento no teor de FDN, ou seja, uma pastagem com menor digestibilidade e palatabilidade. O reflexo direto é a queda da produção, mesmo com animais não apresentando nenhum sintoma físico aos nossos olhos (continuam “gordos e bem”).
Logo, o produtor atento deve avaliar a qualidade da sua forragem nessa época do ano, mesmo que ainda esteja verde. Deve se preparar para a redução da lotação dos seus pastos, decidir qual silagem vai abrir
e qual lote passará a consumir um pouco de forragem, confinamento parcial ou integral, para que a produção seja mantida. Outro detalhe importante que deve ser analisado é o período médio de lactação (DEL: dias em lactação) de cada lote em produção. É importante que os lotes sejam segregados pelo critério de produção de leite sem que o DEL seja esquecido. Se possível, toda propriedade deve ter um lote de vacas em início de lactação separado dos demais. A separação de multíparas e primíparas é muito importante, mas para sistemas a pasto, em muitos casos podemos criar um manejo complexo e pouco prático.A separação de vacas em início de lactação das demais deve ocorrer sempre que possível,
lembrando que o manejo de apartação e segregação de lotes em produção é muito mais importante de  realizado no cocho, no ato da suplementação, do que em situação de pastejo. Nossa recomendação técnica é sempre o delineamento de módulos de produção, de modo que cada lote seja, integralmente, manejado num módulo produtivo. Quando não é possível, optamos pelo manejo e segregação na linha de cocho. A mensagem final para produtores e técnicos envolvidos com manejo de pastagens e sistemas de produção a pasto é sempre estar atento aos detalhes de cada propriedade e fatores que possam afetar o consumo individual e, consequentemente, de um lote em produção. Pequenas medidas práticas, como: troca de concentrado (ao mesmo preço que o atual fornecido) de acordo com a qualidade da pastagem, apartação adequada de lotes, ou mesmo uma mudança no horário de ordenhas, pode fazer a diferença, sem impacto nos custos. O mesmo podemos dizer quanto a uma nova proposta de repartição de nutrientes (quantidade) nos horários de trato, sem se esquecer de focar, sempre, no treinamento e capacitação da mão de obra responsável pela condução de um módulo de produção, para que a realidade prática se aproxime ao máximo da idealizada.

Nenhum comentário:

Postar um comentário