O consumo de pastagem sofre
interferência direta da quantidade fornecida de suplemento (independentemente do
tipo de suplementação, se apenas concentrado ou concentrado e volumoso). Quanto
maior for a quantidade fornecida de suplementos no cocho, menor tende a ser o
consumo de pasto. Quem maneja pastagens, no verão, enfrenta um grande desafio:
o estresse térmico. Mesmo trabalhando com animais cruzados com sangue
zebu, como vacas girolando, tradicionalmente reconhecidas como animais mais
resistentes e adaptados as condições tropicais do nosso país, não podemos negar
o impacto negativo em termos produtivos, causado pelo calor.
É neste período que nos deparamos com os maiores
erros de manejo. Em função do estresse térmico, muitos produtores acabam fornecendo
quantidades maiores de suplemento no cocho, sob a prerrogativa de que “com o calor, as vacas ficam deitadas debaixo
da árvore e consomem pouca forragem, e que é melhor ‘garantir’ a produção no cocho”.
Essa atitude pode agravar ainda mais o consumo de pastagem via efeito
substitutivo.
De fato, em qualquer sistema de produção, e pela
natureza do comportamento animal de ruminantes (atavismo), temos uma tendência
de queda no consumo de MS entre 10:00 e 16:00 horas, diariamente. Em condições de estresse térmico e muito calor,
esse efeito comportamental é ainda mais pronunciado. É comum, em fazendas, não
encontrarmos atividade de pastejo nesse intervalo, em dias de verão e calor
intenso.
Em termos práticos, a realidade que encontramos são fazendas com animais
ordenhados logo cedo. Saem da ordenha e são suplementados. Por efeito substitutivo
e calor atenuante, tendem a se deitar entre às 9:00 e 10:00 horas, após o
consumo de suplemento, permanecendo em baixa atividade até o meio da tarde.
Muitas ordenhas acontecem a partir das 15:00
horas, ou seja, no momento em que poderíamos começar a ter uma melhoria na
atividade de pastejo. No entanto, em muitos sistemas, a partir desse horário os
animais são conduzidos, novamente, para a ordenha. Após a ordenha, recebem nova
dose de suplementação. Nestes casos, temos um efeito substitutivo que pode
inibir atividade de pastejo. Notadamente, esse efeito é menor no período da
tarde. Logo, é importante que o pecuarista esteja atento às possibilidades de
mudanças em seu manejo para ter melhor rendimento. Se durante o período da
manhã os animais costumam comer bem a suplementação e depois descansar, uma
estratégia pode ser oferecer uma maior quantidade de suplemento neste período.
Com o pôr do sol e chegada da noite, e consequente redução na temperatura, o
que notamos é uma melhor atividade de pastejo e consumo.
Logo, uma estratégia interessante de manejo no
período da tarde é o fornecimento de uma “alimentação rápida”, para “convidarmos”
as vacas para um pastejo mais eficiente no período noturno. Dessa forma, o
produtor que trabalha com pasto e suplementação deve estar atento às mudanças
que acontecem ao longo do ano e às possibilidades de mudança em seu manejo de
acordo com cada cenário e desafio prático a ser enfrentado. O primeiro cuidado
é com a quantidade de concentrado fornecida, e teores desse concentrado quando
este é o único suplemento. O uso de rações comerciais compradas, com
formulações “travadas”, nem sempre é a melhor opção ou opção adequada para uma
dada qualidade de pastagem. O pecuarista deve estar atento sempre ao teor de
energia e proteína, em média, que seu pasto produz numa situação de verão. Ao
mesmo tempo, precisa ter consciência que a demanda de alimento varia de acordo
com a produção de leite e estágio de lactação.
demandas sazonais
A qualidade do concentrado para animais mantidos a
pasto no inverno, mesmo que com menor lotação, deve ser bem diferente do
concentrado usado no verão. Concentrados para animais a pasto, no verão,
precisam ser mais energéticos que protéicos. Muitos vendedores que comercializam
rações e suplementos costumam fazer da “concentração protéica” (teor de
proteína bruta) a “moeda de valor” ao abordarem produtores. No verão, com pastagens
bem manejadas e adubadas, a preocupação com o teor de proteína da ração ou
concentrado fornecido não é tão importante quanto o de energia. O contrário
ocorre no inverno, ocasião em que o teor de proteína das pastagens cai abruptamente
e, para animais mantidos em pastejo nessa época (menor lotação), devemos fazer
uso de rações e concentrados ricos em proteína. Animais no terço médio e final
de lactação tendem a consumir mais alimento com menor demanda por nutrientes
(menos energia e proteína), ou seja, dietas menos densas. O contrário acontece
com vacas em início de produção. Logo, por mais interessante que seja fazer uso
de apenas um concentrado misturado na fazenda ou ração comprada, o produtor
deve checar se não vale a pena segregar seus animais, qualificando melhor seu
manejo. Um “concentrado padronizado” em determinadas
condições de manejo pode ser muito pouco eficiente.
Para propriedades menores, com menos animais em produção, a subdivisão em
vários lotes pode ser uma medida pouco prática. Todavia, para maiores
quantidades de vacas em produção, essa subdivisão é mais do que necessária, e
conseguimos facilmente justificar manejos mais elaborados com uso de produtos
direcionados. Em sistemas de produção que trabalham com suplementação de
volumoso é necessário cuidado ainda maior, pois o efeito
substitutivo pode ser maior. Procura orientar seus clientes sempre a otimizar as vantagens
comparativas de cada estação no decorrer do ano. Durante o verão, recomendamos
a máxima exploração da pastagem, sem uso de suplementação com volumosos, se
possível, visando a redução de despesas. A média individual pode ser menor nesse
período, mas nossos esforços são direcionados visando a maior taxa de lotação
possível e produção por área. No inverno, se necessário, optamos até pelo confinamento
total de determinados lotes, e nosso objetivo se volta para a suplementação no
cocho que promova a melhor média de produção. Esse raciocínio se aplica para as
áreas do Brasil de maior latitude e maior estacionalidade de produção.
estação de “transição”
Na presente época do ano, que classificamos como
período “de transição” entre estação chuvosa e seca, os cuidados devem ser
redobrados. Apesar de ainda haver disponibilidade de forragem, de abril em
diante a qualidade dos pastos tende a diminuir substancialmente, traduzida na queda
do teor de proteína (%PB) e com aumento no teor de FDN, ou seja, uma pastagem
com menor digestibilidade e palatabilidade. O reflexo direto é a queda da
produção, mesmo com animais não apresentando nenhum sintoma físico aos nossos
olhos (continuam “gordos e bem”).
Logo, o produtor atento deve avaliar a qualidade
da sua forragem nessa época do ano, mesmo que ainda esteja verde. Deve se
preparar para a redução da lotação dos seus pastos, decidir qual silagem vai
abrir
e qual lote passará a consumir um pouco de
forragem, confinamento parcial ou integral, para que a produção seja mantida. Outro
detalhe importante que deve ser analisado é o período médio de lactação (DEL:
dias em lactação) de cada lote em produção. É importante que os lotes sejam segregados
pelo critério de produção de leite sem que o DEL seja esquecido. Se possível,
toda propriedade deve ter um lote de vacas em início de lactação separado dos demais.
A separação de multíparas e primíparas é muito importante, mas para sistemas a
pasto, em muitos casos podemos criar um manejo complexo e pouco prático.A
separação de vacas em início de lactação das demais deve ocorrer sempre que
possível,
lembrando que o manejo de apartação e segregação
de lotes em produção é muito mais importante de realizado no cocho, no ato da suplementação,
do que em situação de pastejo. Nossa recomendação técnica é sempre o
delineamento de módulos de produção, de modo que cada lote seja, integralmente,
manejado num módulo produtivo. Quando não é possível, optamos pelo manejo e
segregação na linha de cocho. A mensagem final para produtores e técnicos envolvidos
com manejo de pastagens e sistemas de produção a pasto é sempre estar atento
aos detalhes de cada propriedade e fatores que possam afetar o consumo individual
e, consequentemente, de um lote em produção. Pequenas medidas práticas, como:
troca de concentrado (ao mesmo preço que o atual fornecido) de acordo com a
qualidade da pastagem, apartação adequada de lotes, ou mesmo uma mudança no
horário de ordenhas, pode fazer a diferença, sem impacto nos custos. O mesmo
podemos dizer quanto a uma nova proposta de repartição de nutrientes (quantidade)
nos horários de trato, sem se esquecer de focar, sempre, no treinamento e
capacitação da mão de obra responsável pela condução de um módulo de produção,
para que a realidade prática se aproxime ao máximo da idealizada.
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